quinta-feira, agosto 23, 2007

Queda ao céu

Nas margens de um templo
De um reino esquecido

As mãos voltadas ao céu
Ensandecidas

Olhar vibrante do coração
Inebria o caminho

De um tiro ao espaço
Atiro-me as rochas

Vagas, as sereias vagantes
Entre descrenças de um mundo

Entre dor e prazer de uma queda
No fundo das águas
Profundezas da incompreensão.

Subo aos céus.

E olho de baixo a cima
De cima a baixo
Por traz da estrutura construída

Amor e crença
Pecado e perdão
Dor e estases de felicidade

Entre o sangue do meu corpo
Misturam-se nele, águas e estrelas.
Acho que vi Ismalia sorrindo

Viro ar, viro terra, alimento, pedra
Água e calor, combustível, fóssil, torpor

Entre reinos esquecidos
Ergo as mãos ensandecidas
E clamo por perdão da vida
De quem ainda está adormecido.

quinta-feira, agosto 16, 2007

Alheio

Há dias em que me torno alheio a tudo, ao espaço e a falta dele. Exilados dos sensos básicos de noções existenciais.
Alheio as igrejas que na frente passo. Alheio as lojas que vende roupas e sapatos, distante dos carros e maquinas e de olhares gananciosos.
Desligado do material e do espiritual, pois é como se minha alma , entediada do meu corpo, saísse para dar uma volta.
Não vejo sentido nenhum entre beleza ou feiúra, corrupção ou honestidade, boas roupas ou trapos, ou mesmo nos modos das pessoas.
Mesmo que a cada instante todas as pessoas estejam fazendo pequenas escolhas, mesmo todas as pessoas tendo suas diferenças e preferências, nesse dias, diante de tudo isso, a única coisa que sinto, é toda uma indiferença.
Passam-me inertes olhares intencionados, amizades, sorrisos, lagrimas, besteiras, péssimas manias, covardia ou coragem. Vez ou outra nesses dias ,quando alguém consegue dirigir a palavra para meu corpo, eu não respondo, não consigo e não me esforço para poder responder. Desinibidas ou desconcertadas que as pessoas fiquem ,eu não ligo.
Indiferente diante do dia e da noite, do sol e da chuva. Se o vento derruba folhas ou arvores, levanta sementes ou telhas. Se o mundo vai superaquecer ou se quebrar em duas partes.
Vejo-me livre de crenças, dogmas, filosofias, artes, pensamentos, pecado ou perdão.
Alheio aos sentimentos, alheio ao amor e a raça.
Não faz pra mim nenhum sentido a imagem de Deus ou a imagem do Diabo.
Se os rios correm ou param as mentes, se matam baleias ou se matam inocentes.
Que toque a musica ou não, pois nem o silencio me toca.
Boiando, pairando, de olhos abertos diante da pobreza imensa ou a riqueza contrastante.
Morte ou vida. Estamos sonhando? Isso tudo é real? Não ligo para nada disso. Não vejo mistérios e nem vejo motivos em nada obvio. Grandes mensagens, grandes mentes, ídolos mundiais, nacionais, santos ou macumbas.
Da opressão a revolução, causas nobres e distintas.
Não dou a mínima entre uma moça de família ou uma prostituta.
Entre dominante e dominado, um cão ou pessoas com boa cabeça e cultas.
Faz sentindo nenhum tudo isso, e nem posso dizer se está tudo certo ou tudo errado, pois, nessas horas, eu nem quero saber.
Proporciona-me um olhar sem poesia, sem curiosidade por falta de interesse, sem compaixão, sem tardes amanteigadas pelo sol.
Mesmo assim, existe muita poesia em não ter poesia.
Nada me deixa triste, nada me deixa feliz, nada me faz sorrir ou chorar. Não tenho preguiça e nem tenho animo.
A falta de, não significa, ter o oposto do que não sinto, do que não tenho, do que não vi.
Não ei de odiar só por que não amo. Simplesmente me vejo alheio a isso, só isso. Ao universo. Não me sinto alienado nem atento a nada.
Vejo daqui, o que todos chamam de infinito. Ali está o infinito e o universo e aqui estou eu. Não faço, hoje, parte do ciclo.
Recosto-me em algum lugar, e ligo meu cigarro de fumaça.
Sinto-me sentindo algo.
È o meu espanto a importância que dou ao fato... Ao fato... De não me importar com nada.
Contemplo então, seguro de não ser humano esses dias, o frágil pedestal envolto de infinitos pensamentos humanos, e deuses criados por vocês, onde sua consciência e existência estão, delicadamente, apoiadas.

quarta-feira, agosto 08, 2007

Ravior Rimbaund Beleare

Dispara tiros mudos no restaurante, sobre a acústica ressonante de uma opera.
Gritos vazios sem som, e corpos tombando, sobre mesas fartas de comidas caras.
Apenas a opera em cena musical. Regozijos de dor eram nulos.
Ravior frio como os pólos, busca a cozinha.
O espanto paralisante do cozinheiro francês, inerte, sentindo a bala trespassando seu coração. As duas pequenas ajudantes choram e gritam, em companhia da cantora de opera, tudo tão lento e triste. Tentam em vão correr o mais rápido que podem, em busca de um lugar seguro. Mas não existe lugar seguro para Ravior.
Seus corpos caem no chão com murmúrios de vida e anseios não realizados, pois a partir daquele momento, os anjos a buscam soprando trombetas.
Ravior, por um momento, para, pra apreciar as trombetas tristes da opera.
Ajeita elegantemente seu terno com riscas vermelhas, e abaixa seu chapéu, guarda a sua arma.
Após acertar seus óculos, Ravior deixa claro.
Não deviam regular o queijo, os deliciosos queijos para o macarrão.

segunda-feira, agosto 06, 2007

Menina dos Olhos

"Oi Menina"
E ela respondeu com um sorriso
E devolvi o sorriso em dobro.

Menina, dos olhos.
Café na cama. Passos por ilhas.
Bares e vertigens, amor ébrio.
Beijos arriscados, fantasia.
Para ela. Paralelas. Poesia.

Só, que.
Uma fração, de incoerência.
Receios falhos

Menina dos olhos
De um poeta.

E partir, sem dar a chance de um futuro.

"Adeus menina."
E ela me respondeu com lagrimas.
E devolvi com lagrimas em dobro.

quinta-feira, agosto 02, 2007

Confesso-te

Confesso-te

As lembranças que tenho
Não são nada além
Do que fotos amareladas com o tempo

Arrebato certa dor
Que também se fez em sépia

E os dias... Que dias!
Tornam-se traças
Que devoram os detalhes

Eu, que outrora vivi
Que outrora chorei
Que outrora ri e amei

Agora
Do âmago de minh'alma

Confesso-te

Que no presente momento
Nada mais
Arranca-me um suspiro do peito

Dói saber que
Desses tempos que luto
Pouco me lembrarei com alegria
Do que como me lembro de outras datas

E o meu passado
Que esse presente virá a ser

Não haverá dores
E nem haverá saudades

Não haverá traças
Para se fartar de detalhes

Porém, não haverá tons em sépia
Nem pequenas fotos amareladas
De sorrisos espontâneos

Confesso-te então

Vagar sonhando
De fato
É o que me resta

E usando do preto no branco
Em certos dias

Para que pelo menos as traças
Possam se fartar

Do meu prazer de escrever
Tristes,porém
Tais poesias.