quinta-feira, março 13, 2008

Despertador

De súbito, abro os olhos. Vejo-me na penumbra do quarto, e a luz do dia entra pelas frestas na janela. A mesma luz de sempre, a mesma penumbra, o mesmo sono. E o mesmo estrado do beliche... Ah! Esse estrado do beliche...
O som do despertar nem sempre é o mesmo, mas a missão é a mesma. Acordar. O que muda é o olhar. Muda e muda e muda...
Fecho os olhos, os mesmos olhos de sempre. As imagens sem sentido dançam na minha cabeça. E esse estrado da cama continua com as mesmas antigas marcas...
O som do despertador não cessa. A respiração não cessa, mesmo de olhos abertos, as imagens não cessam.
Qual o motivo?Lembrei... Não tenho mais o mesmo olhar de antes, infelizmente, agora é diferente.

Musicas do dia-a-dia. Trilha sonora do cotidiano.
Bom dia, mas os barulhos dos carros forçam a pergunta feita em voz alta "O que?”.
“Bom dia!” Repito... Sempre. Bom dia. É educado.

E meu avô balbucia
Algo como "É tão triste viver sozinho"
Não tenho voz pra discordar, ele já viveu 86 vezes o dia 13 de março, e eu, quase nada.

Viver cada dia como um novo dia. Mas então, se fosse assim, não aprenderia nada. E o passado não serviria de nada.
Nem pra ficção, nem pra inspiração, saudades ou fantasia, e essas coisas que as pessoas pensam sobre o passado.

Ele foi atrás dos seus objetivos, sente que chega perto. Mas se distancia dele mesmo. então, quando ele chegar perto, não vai mais saber quem é ou o que é. e não mais objetivos terá, pois simplesmente acho que não saberá mais quais sãos eles.

Que olhares duvidosos. Fecho os olhos.
"Moço, o seu troco"... o carro vermelho passa. "Obrigado". A TV estratégica no canto do restaurante.
Já vivi isso antes.

O cinza, mas uma vez. a luz que entra é cinza. Não faz sol.
Cinza... Tenho que parar com algumas manias.

O cigarro após o almoço é lei. Advertem-me sobre os riscos.
Nem ligo, assim como sei que não se importam.

A TV resmunga em algum lugar da casa.
Já voltei. Ônibus-sonífero.

O Despertador não cessa, o leito parece tão seguro. Tão certo.
Mas tenho que despertar. E Esse estrado...

A importância que tinha certas coisas já não faz diferença.
Deixei de lado muita coisa, e pus outras na caixa.

O olhar mudou... Naturalmente.

Desperto.
Só mais um dia.

O desperta dor para.

Eu continuo.

quarta-feira, março 05, 2008

Calor do Momento

O calor, o sol, esquenta e torra todas as minhas ligações cerebrais. Destrói a minha face. Minha vontade.
A vontade de mudar o mundo se abalou. As suposições de poder viver... Expectativas impostas, se distorcem e regozijam-se diante minhas visões sonhadoras. Trançando centímetro por centímetro de vida, dedicando o tempo pra poder garantir um belo sorriso no rosto, para ter o poder de esbanjar satisfação, humana.

Vagos corpos, vagas insônias nas metrópoles... Choros ébrios. Na noite que nunca acaba.

Por dentro de toda a estrutura firme, orgulhosamente apresentada atrás das vitrines e mesas de escritórios, encontram-se frágeis peças em eminente destruição, por qualquer coisa que mude a rota traçada. Que pena, os trilhos levam até uma triste colisão, quer dizer, na verdade, não chega a ser triste. Triste é a tentativa de lutar contra um fim que nascemos sabendo que é certo.
Do que importa quem somos nós, se temos uma vida, e uma vida não é suficiente para conhecer alguém? Com exceção dos pobres de espírito. Mas o esforço e compaixão foram inventados pra isso.

Todos nós sangramos, todos nós precisamos dos mesmos meios para poder viver e mesmo assim.
Uma coisa é ler, ver, estudar, outra é viver. È fácil julgar quando não é a própria pele que esta em jogo.
Tolos, fazemos parte do jogo.

Que a temporada de caça aos heróis comece. E o vilão está ganhando mais uma vez... Alienação.
Os animais também sonham... Os animais também sofrem com pesadelos. Os animais sentem medo. Um animal certa vez sonhou com vacas gordas, vacas magras.
É tão legal e patético, certas coisas, confesso que até me deprimo às vezes. Mas gosto, sou patético também, sou um alienado também, mas e dai?
Mais pra frente irei falar com orgulho da minha vida patética assim como fazem os velhos hoje. Que, alias, falam tanto, que todo mundo prefere ser um pateta antigo, a atual. Mas se alguém quiser viver minha vida antiga e patética mais pra frente direi, "Cuide da sua vida!", bom se houver vida daqui um tempo.
Essa modernidade toda é muito excitante, hoje quem pensa no futuro é só quem sabe o quão ruim foi o passado. E todo mundo, jovem, não sabe disso, só gostaria de ter visto Geraldo Vandré no palco e ter uma "causa".
Não sei que sempre vivem procurando causas, é do ser humano sempre procurar alguma coisa pra reclamar. Sempre tem algo... Mas ninguém descobre o que é, pelo menos hoje em dia.
Tempos modernos e Vidas antigas. Vidas novas Tempos antigos.

Mas no fim.
Acho que tudo isso não passa na verdade de algum superaquecimento Cerebral.
Pelo menos o calor desproporcional faz pensar um pouco.