terça-feira, julho 27, 2010

Tal qual a razão de ...

...certas coisas acontecerem
Sobre prelúdios de noites vãs

É essa impressão

De profecia sem destino
Saudade do que não viu
Razão sem objetivo

A superfície sempre foi real
Mas realidade agora
É superficial

As portas e placas
Estradas e faixas

Dividi-nos

Em busca da Emoção ideal
Através de um meio Artificial

A verdade está escondida
Na ofuscação de uma luz

Que não precisa ser compreendida
Apenas sentida no ar
Em todas as coisas

Nossas matérias, materiais
Também somos nós

Tudo provindo das
Tais poeiras

Astrais



sexta-feira, julho 23, 2010

Estoura Fuça

Com um cano, acertou em cheio as fuças daquele miserável e se afastou dando dois pulos para trás. Sentia que estava seguro de possíveis investidas daquela distancia. Marcava sua área de ameaça com um cano que segurava, levando-o de um lado para outro, fazendo um zumbido engraçado. Poderia acertar seus adversários antes que estes pudessem aproximar-se dele.

Eles estavam em oito e queriam tirar satisfação de brigas passadas. Há tempos que a covardia tinha invadido os espíritos dessas crianças. Tinha certa vantagem por eles estarem bêbados, porém sabia que teria que bater com o dobro da força para poderem sentir alguma coisa.

Estavam nos fundos da escola, na antiga quadra, onde havia quase nada de supervisão por parte dos inspetores.
Tudo bem, os mais inocentes pensaram: Brigando na escola, com um cano e ainda bêbados? É exatamente isso. E eles não estavam para brincadeira.

Depois que o primeiro deles tomou um forte golpe na cara, caiu sentado com a mão no rosto. Os outros pareciam abelhas bravas, xingando e se movimentando entre eles. Mas até então, nenhum ousou partir para cima daquele que tinha como sua defesa, não muitos amigos, mas sim aquele cano um pouco enferrujado.
Neste momento ele pensou em dar um nome para seu amigo; "Estoura Fuça". Na verdade achou o nome horrível, e quando tivesse mais tempo daria um nome mais legal com números e consoantes soltas, talvez.

Antes que terminasse seu pensamento percebeu que dois deles partiram com muita raiva para cima dele. Um deles era o irmão do que merecidamente tomou uma "canada" na boca. Ficou bravo depois de o garoto cuspir os três dentes da frente na linha da grande área daquela quadra fudida.

Não deveria ter se distraído com o “estoura fuça”, e teve que dar mais dois pulos para trás para se desviar das investidas, passando por dentro das traves sem rede. Esse movimento foi o suficiente para os outros também partirem para cima. Ele sabia que deveria derrubar mais algum deles para que ficassem parados novamente.

Estava com dois em sua frente, na trave da esquerda, dois pela trave direta e outros quatro quase que o flanqueando pela linha de fundo.
Decidiu acertar o irmão do banguela, e comprar de uma vez por todas uma briga com toda a família.
Escorregou a mão até a ponta do cano e mesmo sentido um forte chute nas costas, e alguns socos na nuca. Desferiu um golpe certeiro, até de mais, no rapaz que caiu inconsciente.

O Chute que tomou pelas costas o empurrou para cima do cara que estava do lado do que tinha acabado de cair. Mas este ainda estava pasmo pelo barulho que o cano fez ao atingir o amigo.
Aproveitando o impulso dolorido do chute, desferiu um golpe no nariz daquele que, segundo gírias locais, estava "panguando" ali no meio, assustado com o que tinha acontecido.

Não chegou a cair, mas a pancada foi o suficiente para ele sair cambaleando para o meio da quadra com um nariz torto.

Ficou ao lado da trave esquerda, no mesmo lugar que o cara inconsciente jogado no chão. E achou graça o outro sem dentes ainda em pé, gritando coisas inteligíveis enquanto cuspia rios de sangue. O do nariz falava fanho e chorava.

Tinha-os novamente na sua frente. Agora três deles bem machucados.

Não queria continuar com aquele derramamento de sangue, mas no fundo estava gostando mesmo do barulho do metal cortando o ar e acertando seus adversários. Depois de mais alguma gritaria, começou a ficar preocupado com o corpo estendido no chão, sabia que não estava morto, mas mesmo assim...

Nesse momento o portãzinho de metal do fundo da quadra se abre. Passam por ele a diretora e mais dois policiais militares.
Em questão de poucos momentos a quadra estava fazia, os únicos que foram pegos foram o banguela, o nariz e o rapaz inconsciente.

Pulou o muro tão rápido, que nem sabia por que estava correndo, mas algo dizia para ele nunca mais voltar naquele lugar. Segurando forte o “estoura fuça”, decidiu deixar esse nome mesmo.



Valei-me

Sinto que preciso escrever essas linhas para manter-me vivo. Pois sempre haverá coisas que não podemos prever. Se prevenir de algo que desconhece parece loucura, mas alguns têm um dom incerto para a profecia. Alguns raciocinam mais, outros sentem mais as coisas ao seu redor. Considero coisas indistintas.
Independente do que sejam aqueles arrepios em certas noites. O ar pesando nas narinas, e as nuvens parecendo flutuar mais baixo, em formato de sinais a serem captados.
A lua e as estrelas nos revelam parte do caminho.
Não consigo ser cético. Digo que existem coisas que ainda não compreendemos pela ciência, e podemos encontrar hoje apenas através da nossa mente. E nossa mente esconde tantos mistérios e tantas curas.
Percebemos que dentro da nossa linha de visão sempre há alguém que precisa de certa ajuda. E quem somos nós para ajudar alguém quando nem conseguimos nos salvar desse mundo insano?
O jeito é; não há saída. Não dá tempo de tentar correr. Todos nós precisamos do clichê, do amor, esse que tudo envolve. Não há reforma social se não haver reforma espiritual e intelectual.
A palavra amor possui um significado há tempos extinto na expressão espontânea dos olhares. Há o formato, junto do interesse com o conveniente e a manipulação. O amor virou um signo que não muitas pessoas podem entender. E os que entendem, tendem a ir embora, carregando consigo um dos mais lindos segredos. Quando há palavras para descrevê-lo, só existe incompreensão e a edificação de falsos templos e tendências. Mas quando flui através do olhar e de pequenos atos, de simples sorrisos e um forte abraço, dessa maneira sim, podemos sentir onde tudo começa. Mas o caminho não é fácil. O amor faz sofrer e o ar faltar. Traz a angustia que comprimi nosso peito até beirarmos a loucura em noites mal dormidas.
Sim, existem mistérios na vida, um deles, somos nós.
Mas modernizaram a rotina, enfeitaram a forma de pensar. Hoje nada é o que parece ser. Somos coisas que podem se vender. Ninguém nunca disse que seria fácil. Mas tento levar a vida da maneira mais simples que posso. Com nada mais do que eu preciso, para poder sorrir de novo.



segunda-feira, julho 05, 2010

Medo

Todas as janelas estavam trancadas e a luz da lua entrava formando uma penumbra no local. Não havia nada o que podia ser feito. Verificou o seu celular, estava sem bateria. Olhou para os lados em alerta. Um semblante desesperador dominou sua face.
Escutava ao longe eles se aproximando.
Procurando por algum tipo de cobertura, sentou-se rapidamente ao lado de algumas caixas empilhadas. Abraçou suas pernas encostando sua cabeça nos joelhos.
Junto de um tipo de oração aflita começou a chorar baixinho.
Sentiu uma forte dor de cabeça, seus membros tremiam. Vomitou em seu colo sem parar de chorar.
Estavam mais próximos agora. Conseguia ouvi-los entrando pela porta principal. Frenéticos.
Tentou se recompor, porém o gosto azedo junto das salgadas lágrimas em sua boca o fazia sentir ainda mais náuseas.
Seu rosto estava vermelho e inchado.
A porta abriu de súbito por um forte pontapé e ele se encolheu ainda mais. Uma voz bradou e ecoou pelo recinto:
--Aparece filho da puta!
Tinha a vã esperança de acordar daquele pesadelo a qualquer momento. Mas tudo aquilo era real.
Devido ao pavor e medo, sentiu seu estomago embrulhar e seu intestino manchando suas calças.
Escutou alguns passos se aproximando de onde estava e logo uma rápida conversa:
--Esse lugar fede! Disse uma das vozes.
--Não é o lugar, é o cheiro daquele merda!
Desesperado, soluçou um pouco mais alto... Em vão, colocou a mão na boca para não fazer mais barulho. Porém eles já sabiam onde ele estava.
Escutou os passos contornando as caixas e a forte luz de uma lanterna o cegou. Só conseguia ver a silhueta de seus algozes.
--Da uma olhada nisso, que piada.
--Nem pra morrer com dignidade né seu cuzão? Completou outra voz.
Tentou levar as mãos até os olhos cerrados para poder enxergar melhor. Antes de completar seu movimento, dois tiros ressoaram.
O som dos tiros propagou-se pela região, mais do que a noticia de sua morte.