quarta-feira, agosto 17, 2011

Cem Titulos.

Em alguns minutos o trem já estaria partindo e, como de costume, ele estava atrasado. Pulava apenas com um pé no chão, enquanto tentava calçar o outro sapato. Segurava com a cabeça, um celular no ombro, que apenas dava um sinal monótono de uma chamada não respondida.

Jogou o celular em um canto e correu para procurar uma camiseta decente. Olhou o relógio mais uma vez e percebeu que não tinha passado tanto tempo assim; ainda era possível tomar um café.

Na cozinha, tentou chamar novamente, mas o toque monótono repetiu-se em sua orelha. Devido a este fato, ficou indeciso se deveria ir e milhares de coisas brotaram em seus pensamentos.

Deu de ombros. Olhou o relógio e terminou de tomar seu café rapidamente. Correu para o banheiro lavar seus dentes, mas não antes de se perder pela bagunça do quarto, procurando sua carteira e sua chave.

Bateu a porta de casa e correu pela calçada desviando de velhinhas de todos os tipos. Como numa corrida de obstáculos, pulava por cima dos canteiros, mendigos e bancos. Desviava com maestria dos transeuntes distraídos.

Aquele caminho que sempre fazia caminhando tranqüilo e prestando atenção nos detalhes, agora, se tornava apenas reflexos de sua visão periférica e na elaboração de seus passos por obstáculos vistos com antecedência.

Sentiu o celular vibrar em sua perna e logo em seguida um som indicando que acabara de receber uma mensagem. Enfiou a mão no bolso sem parar de correr.

Atravessou a rua congestionada. Sua atenção dividida com o celular o fez chocar-se com uma moto que vinha rápido por entre os carros, arremessando corpo para um lado celular para outro. Moto pra de baixo do carro e o motoqueiro torto.
Os motoristas que estavam na frente do acidente, acharam-se com sorte e saíram dali assim que foi possível. Os que estavam atrás não acreditavam que teriam mais transito.

Poucos saíram do carro, preocupados com o que havia acontecido.Mas a maioria dos pedestres parou para ver o incidente. O motoqueiro já se levantava um pouco atordoado, mas por entre os carros havia uma pessoa desacordada e ainda por cima atrasada.

O celular caiu ali bem perto do meio fio, onde estava parada uma mulher curiosa segurando a mão de sua filha. A criança conseguiu desvencilhar-se facilmente de sua mãe distraída e pegou o celular.

O visor um pouco arranhado mostrava a mensagem:

“Acabei de ver suas ligações. Ñ adianta. Não há nada que vc possa fzr, irei embarcar nesse trem de qualquer jeito. Espero que fique bem, te amo.







sexta-feira, agosto 12, 2011

Chiado

O sol palido e quente
de um inverno no século vinte e um

o sagrado horário humano
quando reunem-se para comer

Chamam de almoço
Ou intervalo do trabalho

cada ponto de vida
Santa e torta em cada esquina

Esconde no dia
os milagrosos pensamentos
De pecado

Que martírio
Os céus estão fechados

Nas ruas sinuosas
e olhares estudantis


Deformados velhos simpáticos
arrastando seus pés cansados

Com seus assobios
e suas gaitas

Melodia dentro do ruido
Do papo alto desinteressado

Do ronco surdo dos motores
E qualquer tipo de carro ligado

Que dia claro como numa T.V Antiga
E os barulhos feito um chiado de radio

Chia
O mundo chia baixinho

Os ventos trazem respostas
Que não queremos encontrar

Então damos as mãos
Pagamos pela cerveja e pelo ônibus
E fugimos das perguntas certas

No sol palido e quente
De um inverno de lugar nenhum


Sarro

Recebeu ofertas de felicidade por todos os lados
Em todo canto cartazes tortos
Risadas mudas
Sorrisos perfeitos

Trincando os dentes num pedaço de calçada

Em cada detalhe mudo
Um pouco de tudo e mais um pouco de nada
O caminho exemplar

O ser ideal
O orgulho do papai
O queridinho da mamãe
Um exemplo de civil

E os andares tortos
Os braços girando
A musica

E a risada muda

Ela é vil

Mas é apenas um detalhe sórdido

Da risada e tira um sarro

Leva a mão até a boca suja
Bate uma e cumprimenta o aliado


Harmonia

Texto editado da sua versão original de 2009

Já houve tanta coisa que me confundiu, me jogou no chão, me levou para outros caminhos, algumas feridas que cicatrizaram de um jeito estranho, algumas um pouco visíveis até, mas que se transformaram em parte de mim: Hoje as ostento como cicatrizes de batalha.
Vez ou outra falam comigo, como se estivessem com um manual de etiqueta e conduta na sociedade para seres humanos debaixo do braço. E o simples fato de eu estar cagando para isso, irrita um pouco as pessoas, mas, fazer o que?Não tenho que seguir as mesmas trilhas, só por que acham que essa é a única maneira de dar certo.
A coisa que mais admiro nesse mundo são pessoas que sabem o lugar que estão. Não tenho posição de dizer que o modo que eu vivo e penso é o melhor modo, mas é o meu modo, eu sei que isso me faz bem.
Adoro conversar e adquirir um pouco de outros modos de viver e estar apto a passar coisas que eu vivo e aprendi, troca de informações, não de provocações, não uma competição.
Respeito. O real valor do respeito é um pouco destorcido hoje em dia. O respeito se misturou com falsidade, tolerância e hipocrisia. Quem sabe ser feliz com o que faz não dá palpite no modo que outro leva a vida.
Ninguém pode falar para você, o que você é. Por que todos nós simplesmente podemos tudo, o mundo vai tentar te deixar quieto no seu canto, como as pessoas estão acostumadas a ficarem, não deixe isso acontecer, não morra antes da morte. Hoje penso que se não fosse por certas coisas que sofri e pastei, não teria concepções tão boas pra mim, valores que me fazem sentir muito bem, valores que me fazem ter certeza que estou de bem com o mundo. E são coisas que não se sente, lendo ou seguindo um manual.
Com certeza isso que estou escrevendo, não reflete nem uma fração do que realmente seja sentir isso.
Com o tempo, algumas coisas servem apenas para você, e ninguém mais precisa ouvir o que você diz ou canta ou pensa. (na verdade nunca precisou, mas no fundo, isso não muda em nada.)
Ai então, o silencio vai espreitando e se acomoda. E a intimidade dos pensamentos, conversas e textos se restringem, a quem esta vivendo a mesma coisa. Não estou tentando mudar nada, ou usando do preto no branco para alterar o curso da mentalidade da humanidade. Deixa de ser uma questão de bater na mesma tecla, e passa a ser uma melodia naquele tom. Cante quem quiser. Houve um dia que os homens criaram o sistema, e recriaram o mundo. Hoje os homens são criados pelo sistema.
É uma força invisível, que se inseriu na mente das pessoas como uma memória afetiva pelos velhos hábitos, de se sentir mal sem saber o porquê, de julgar sem pensar sobre, de permanecer apático devido ao medo. Hoje tudo é muito grande, e muito rápido. Acessos fáceis para tudo e prazeres artificiais.
Tornou-se um monstro incontrolável, que gira a roda do mundo, para uma direção profetizada por antigos artistas tão controversos em suas épocas. Mas essa é a minha época, não a deles.
Dizem que o presente hoje é um reflexo torto do que foi no passado. Então o nosso futuro será um reflexo em pedaços do nosso presente. E vem gente me dizer que tenho que acompanhar o manual de conduta para ser feliz. Nem ligo.
O que a maioria das pessoas não entende, ou não querem entender, ou tem preguiça de pensar sobre, ou medo, é que cada vez mais, essa coisa toda, infantiliza o ser humano, e lhe da o titulo de um falso homem. Criam mais e mais homens e mulheres vitimas de uma concepção artificial de felicidade.
Arriscar um pouco é preciso, e principalmente, ter segurança nos próprios valores e princípios.
A roda gira, eu giro junto, agente morre não sabe onde vai parar.
Eu escolhi, não vou morrer antes da morte, só por que acham melhor assim.