quarta-feira, setembro 26, 2012

Miragem de Nós VI


Ele não sabia exatamente para onde estava indo e resolveu sentar naquele banco. Aquela tinha sido uma noite realmente longa e o vento da madrugada passava sútil naquela praça longe do centro da cidade.

Fixou o olhar para o céu e sem querer topou com uma lua quase cheia.

As nuvens passavam rapidamente, fazendo a sombra criada pela luz natural da noite, oscilar debaixo dos seus pés.

Esfregou suas mãos uma na outra e ao descer o olhar notou a presença dela a alguns metros do outro lado da praça.

Sentiu o seu sorriso, mesmo não conseguindo ver seu rosto com perfeição.

Olhou para as sombras oscilantes no chão

Sorriu também.

quarta-feira, setembro 19, 2012

Você é o Abismo Pt. II

Tudo estava calmo.
As coisas estavam onde deveriam estar, se é que deveriam estar.

Permeava somente o som dos ambientes distantes, que chegava aos ouvidos de forma acidental.

Dois acidentes concluindo-se, da mesma maneira que as ondas do mar estouram e recuam nas rochas impassíveis da encosta, apenas para avançar novamente.

Não era possível diferenciar as cores dos objetos daquelas cores que existiam nos sonhos.

As cores também se tornam acidentes da imagem. Vibrações peculiares.

Uma estranha sensação de ainda estar dormindo ou de talvez estar se desfazendo em direção ao interior de si mesmo infinitas vezes; uma condição inversamente proporcional ao exterior, de simplesmente ser o que se é.

O significado é um reflexo da sensação. A sensação torna-se posterior à causa de simplesmente existir. Pensamentos são inúteis aqui.

Algumas imagens chegam como lembranças... Lembranças de sonhos? Difícil de firmar na mente. Num segundo tudo é nítido, no outro, não importa o esforço, tudo se perde em imagens vagas e borradas que se misturam estranhamente às cores que impregnam a visão.

Na mesma certeza do desgaste das coisas do mundo pelo tempo, as imagens simplesmente somem, como um avião que passa e desaparece no horizonte, deixando para trás, apenas um ruído que não faz referência ao seu formato.

A posição justificada do objeto pertinente ao vazio que ocupa no espaço.

O vazio que existe pelo fato de existir nada em si e poder guardar em si todas as coisas do mundo.

Recipiente constantemente preenchido por toneladas de sons, cheiros, sabores, cores, formas, pensamentos e ainda assim nunca transborda. Um eterno vazio da natureza humana.

O intervalo cria o sentido das curvas, do ritmo e do formato.

Só consegue acordar quem esta dormindo.

Ninguém aprende a sonhar.

Você é seu próprio abismo.