sexta-feira, dezembro 17, 2010

Contoníricos

Locução mental.
Dênis Garcia sentou-se diante do computador e, desinteressadamente, começou a verificar os seus perfis e as atualizações, dentro de certas redes sociais. Denis não usava muito o computador em sua casa, porém no trabalho, passava horas em frente ao monitor, olhando para as paginas principais, esperando que algo acontecesse.
Mas foi neste dia que Denis experimentou algo inédito em sua vida.
Ao passar os olhos pelos menus e nome de amigos em cada rede, parou para ver as fotos de um deles. Claro que Denis não conhecia pessoalmente todas as pessoas com que tinha contato, porém, essas fotos eram de uma amiga, Solange Brandão, que tinha conhecido fazia alguns meses. Observou as fotos e relembrou-se de muitas coisas, inclusive de sua voz. Em cada legenda que lia, era como se a voz de sua amiga estive lendo para ele.
Uma foto dela sentada na ponta de um sofá, com as pernas cruzadas e sorrindo. Logo abaixo ela dizia para Denis; “ Por que sorrir é o melhor remédio”. Já noutra, ela aparecia numa praça, brincando com uma criança. Ambas estavam em um playground, sentadas num balanço e segurando um sorvete. Nesta foto ela dizia: “Nunca se esqueça de sua criança interior”.
Ele ouvia claramente a voz dela em sua mente.
Tirando o fato dele poder ouvir a voz de solange em sua cabeça, lendo para ele as legendas de suas fotos, coisas como essas passavam rápido na vida virtual de Denis.
Em um dia via inúmeras foto de álbuns virtuais dos seus amigos. Por isso que, despretensiosamente, fechou logo a aba de seu navegador e voltou para a página principal de seu perfil.
Foi quando ao tentar ler as noticias que estavam ali e mesmo certos botões como “ Principal”, “ Seus Recados”e “Fotos”, por exemplo, sua amiga continuava a falar em sua cabeça.
A voz que tinha em sua mente, quando lia algo, era a dela.
Tentou ler uma noticia no jornal on-line, mas toda a matéria foi lida por Solange. Passou para um blog, ainda ela. Naturalmente, começou a estranhar. Não era algo que incomodava, pois a sua amiga até tinha uma bela voz, porém não seria legal se fosse pra sempre.
Considerou que, pelo fato de ter acordado muito cedo e ter “trabalhado” o dia todo, aquilo poderia ser apenas algum tipo de alucinação. Decidiu desligar a maquina e ir dormir, amanhã seria outro dia.
Neste momento, Denis também percebeu que, não só o que ele lia na internet, era com a voz de sua amiga, mas também os menus do sistema operacional, como “Meu computador” “Programas” e “Iniciar-desligar o computador”.
Após isso, intrigado, esperou a maquina ser desligada e resolveu procurar um livro em sua estante. Passou o olho rapidamente em alguns capítulos, só para verificar se a voz ainda estava lá. A cada oito palavras que lia, três possuíam a voz de Solange. Como se estivesse com um mau contato.
Perplexo, Denis fechou o livro e parou. Começou a pensar o que poderia ser aquilo. Depois de algum tempo sem resposta, achou melhor esquecer, no dia seguinte acordaria como se nada tivesse acontecido e daria risada. Talvez postasse isso em algum de seus perfis, quem sabe até, não daria animo para criar aquele blog que estava planejando fazia um tempo?
Foi ao banheiro para escovar os dentes e notou que, as embalagens dos produtos, também estavam sendo lidas por ela. A marca da pasta de dente, sabonete, a embalagem de xampu e até as suas instruções de uso. Em algumas embalagens, a voz até soava mais sensual em sua mente. Inclusive, achou engraçado, pois, nunca tinha ouvido a voz de Solange daquela maneira. Mas ele tinha certeza que se ela falasse daquela forma, seria idêntico.
Desligou a luz do banheiro e foi para o seu quarto dormir, já pensando em mandar um recado para sua amiga no dia seguinte, dizendo o quão estranho estava sendo aquilo e talvez, fazer alguma piada sobre a sua voz sensual.
Ajustou o alarme de seu despertador e dormiu tranqüilamente sem ter nenhum sonho. O barulho frenético do alarme acordou Denis, que se levantou num pulo e rapidamente olhou para o relógio para conferir as horas; 06h30min dizia Solange.
Ficou indignado e deitou-se novamente na cama com a cabeça de baixo do travesseiro. Quis tentar extrair mais alguns minutos de sono, também pensando que isso poderia funcionar para tirar de uma vez, a voz da sua amiga de dentro da cabeça.
Ao segundo toque do alarme, ainda com a cabeça de baixo do travesseiro, olhou para o relógio. 06h45min, dizia Solange.
Era óbvio que seu dia não tinha começado nada bem.
Levantou-se da cama, puto, e começou a se arrumar para ir trabalhar. A voz dela ainda permanecia na marca de seu desodorante, na embalagem de margarina e até na nota de dois reais que havia entregado para o cobrador do ônibus, no caminho pro trabalho.
Durante o trajeto, começou a notar que todas as placas estavam com a voz de sua amiga “Pare” dizia ela e logo à frente um alerta: “Cuidado, homens trabalhando”. Mesmo o nome dos comércios, faixas e outdoors.
Neste momento começou a refletir novamente o que poderia estar acontecendo com ele. Sacou um livro de sua mochila e bateu os olhos sobre alguns trechos. A cada dez palavras que lia, sete eram de Solange.
Ligaria para ela se tivesse o numero de seu telefone, ou se soubesse alguém que poderia ter, mas não havia ninguém que a conhecesse também.
Denis ficou impaciente para chegar logo ao trabalho e tentar resolver isso, entrar em contato com ela, reverter o que estava acontecendo. Queria a sua voz mental de volta, pois não agüentava mais a ouvir a voz de Solange lendo quase tudo por ele. No escritório, adiantou-se um pouco aflito para o seu computador. Porém, quando foi conectar-se, reparou que o sistema de rede tinha caído, e que ficaria off-line o resto do dia.
Nesse exato momento, um de seus supervisores entra e deixa uma pilha de relatórios em sua mesa, dizendo que hoje o trabalho seria dobrado devido à queda do sistema. Encostado em sua cadeira, abatido e angustiado, observou a imensa pilha de papel sobre a sua mesa. Não sabia o quanto a voz de Solange já tinha se proliferado dentro da sua cabeça. Não sabia se estava enlouquecendo ou se isso era apenas passageiro, coisa da sua imaginação.
Tomou os primeiros relatórios em sua mão e conferiu que todas as palavras agora que lia no papel, possuíam a voz de Solange. Mesmo assim, decidiu continuar, alguma hora teria sua voz mental novamente.
No principio teve um pouco de dificuldade para se concentrar, pois, quando lia algo a voz era a de Solange, mas quando tinha que pensar em aonde colocaria aqueles papéis, a voz era sua. Dessa forma o que ocorria era quase um dialogo das duas vozes se cruzando. O que ele queria era não pensar mais em nada, mas logo depois de algumas folhas, já entrara num estado automático para organizar tudo aquilo. No processo, sua mente começou a divagar sobre aquilo que estava acontecendo, de como poderia se livrar daquela voz. Talvez conectar-se novamente poderia ser a solução, era única coisa que ainda não tinha feito. Enquanto pensava no que poderia fazer, notou que a voz de Solange não só estava nos papeis, mas também em alguns questionamentos.
Quando pensou “será que, se eu falar que não estou bem, o supervisor me deixaria ir pra casa?” Notou que era voz de Solange em sua mente. Ficou perturbado, á voz dela agora, estava também em seus próprios pensamentos.
Saiu com pressa do escritório e dirigiu-se para a sacada do prédio reservada para fumantes. Pegou um cigarro, tentando se acalmar. Não podia mais agüentar aquilo. Ao ver a aparência abatida de Denis na ala de fumantes, um dos supervisores resolveu entrar para perguntar se estava tudo bem. Começou a achar que Denis estava abstinente de internet.
Ainda com a voz de sua amiga em alguns pensamentos, conseguiu convencer que realmente não estava bem, porém fez segredo do que estava passando. Como iriam entender? Como iria dizer que precisava urgente ir para uma lan-house, para ficar melhor?
Já na lan-house, conectou-se com certo alivio e rapidamente buscou o perfil Solange. Para ver se ela estava on-line, ou para mandar um recado pedindo que ela entrasse em contato urgente. Se ele ouvisse novamente a voz real de Solange, talvez pudesse voltar ao normal. Depois de uma busca minuciosa, notou que todos os perfis foram excluídos, não havia mais nenhuma Solange Brandão.
Saiu desconsolado e parou na calçada para poder fumar, mas não fumou; Solange não fumava. Decidiu que precisava urgente de um psicólogo, um psiquiatra talvez, porém logo desistiu da idéia; Solange era auto-suficiente.
Notou que suas roupas não lhe caiam muito bem. Notou que estava em outro lugar. Solange Brandão não sabia direito como tinha chegado ali, mas sabia que devia continuar. Agora como: Denis Garcia



quinta-feira, dezembro 16, 2010

Papo de Chapado I

--Cara... E se, do nada, descesse uma pessoa dos céus e ficasse voando a uns 2 metros do chão, aqui entre a gente?

--Ah, sei lá acho que eu teletransportava.


segunda-feira, novembro 22, 2010

(im)pulso

Há noites que no passo
Esqueço o rumo

Na teoria noturna
Perco o prumo

Em certo Instante

Distante
Dos teus olhos

Incerta vez

Do teu
Olhar assim

Que em discreta voz
expressa

Indiscreta
Concordância

Entre meu passo
Sem rumo

E a tua boca
Em mim


sexta-feira, setembro 17, 2010

Quero Escrever Você.

Quero escrever você. Por meio dessas letras, gostaria de formar um código poético onde pudesse ser encontrado cada traço do seu ser. Uma extensão da sua existência para dentro da literatura, fazendo então, surgir poesia.
Um código que somente poucas pessoas poderiam decifrá-lo e mesmo assim, poderiam vislumbrar somente uma margem da realidade diante ampla beleza da Musa. Porém, encontro-me no impasse de não poder transpor tal identidade única com a perfeição digna necessária.
Quero escrever você. Em meu corpo, nas paredes do meu quarto, nos postes e nos muros antigos da cidade, nessas linhas digitais e frias, nesse bloco grosseiro e distante da realidade.
Quero ler seu nome como se fosse uma palavra sagrada.
Sendo assim, escrever-te-ei em tudo. Seja em meu mundo irreal e fantasioso, seja no dinâmico mundo virtual e patético, seja na realidade mais sagrada de todos os homens santos que já pisaram sobre a terra.
Basta somente o presente, para entender o espiritual, o material e o natural. Quero amar-te necessitando de somente o presente.Creio que somente desta forma, poderia desfrutar completamente desse imenso sentimento que me aquece o peito. Quero amar-te como amo as artes, que engrandece e excita
Vejo falsos dilemas sobre o amor, mas que é amor, se não a entrega?
A união simples dos detalhes perfeitos. Como um sorriso inebriante que paira sobre as incoerências definidas pelo acaso ou nas vezes em que minha atenção se fixa no reflexo de seu olhar profundo e singelo e nossas mãos se tocam distraidamente quando estamos próximos.
Quero escrever você na minha alma, esta que temos em comum. Você, divina feito musa e eu, singelo humano. Este que se arrisca no mundo das letras, da linguagem poética e dos signos gramaticais, simplesmente para poder tentar um dia transpor com perfeição seu código literário
Esse código é se não, a verdade mais pura que posso encontrar sobre o amor.
Pois é neste momento que me permito sentir o clímax inebriante de segurar-lhe o rosto depois do beijo, olhar-te nos olhos e poder ser... ninguém.

terça-feira, julho 27, 2010

Tal qual a razão de ...

...certas coisas acontecerem
Sobre prelúdios de noites vãs

É essa impressão

De profecia sem destino
Saudade do que não viu
Razão sem objetivo

A superfície sempre foi real
Mas realidade agora
É superficial

As portas e placas
Estradas e faixas

Dividi-nos

Em busca da Emoção ideal
Através de um meio Artificial

A verdade está escondida
Na ofuscação de uma luz

Que não precisa ser compreendida
Apenas sentida no ar
Em todas as coisas

Nossas matérias, materiais
Também somos nós

Tudo provindo das
Tais poeiras

Astrais



sexta-feira, julho 23, 2010

Estoura Fuça

Com um cano, acertou em cheio as fuças daquele miserável e se afastou dando dois pulos para trás. Sentia que estava seguro de possíveis investidas daquela distancia. Marcava sua área de ameaça com um cano que segurava, levando-o de um lado para outro, fazendo um zumbido engraçado. Poderia acertar seus adversários antes que estes pudessem aproximar-se dele.

Eles estavam em oito e queriam tirar satisfação de brigas passadas. Há tempos que a covardia tinha invadido os espíritos dessas crianças. Tinha certa vantagem por eles estarem bêbados, porém sabia que teria que bater com o dobro da força para poderem sentir alguma coisa.

Estavam nos fundos da escola, na antiga quadra, onde havia quase nada de supervisão por parte dos inspetores.
Tudo bem, os mais inocentes pensaram: Brigando na escola, com um cano e ainda bêbados? É exatamente isso. E eles não estavam para brincadeira.

Depois que o primeiro deles tomou um forte golpe na cara, caiu sentado com a mão no rosto. Os outros pareciam abelhas bravas, xingando e se movimentando entre eles. Mas até então, nenhum ousou partir para cima daquele que tinha como sua defesa, não muitos amigos, mas sim aquele cano um pouco enferrujado.
Neste momento ele pensou em dar um nome para seu amigo; "Estoura Fuça". Na verdade achou o nome horrível, e quando tivesse mais tempo daria um nome mais legal com números e consoantes soltas, talvez.

Antes que terminasse seu pensamento percebeu que dois deles partiram com muita raiva para cima dele. Um deles era o irmão do que merecidamente tomou uma "canada" na boca. Ficou bravo depois de o garoto cuspir os três dentes da frente na linha da grande área daquela quadra fudida.

Não deveria ter se distraído com o “estoura fuça”, e teve que dar mais dois pulos para trás para se desviar das investidas, passando por dentro das traves sem rede. Esse movimento foi o suficiente para os outros também partirem para cima. Ele sabia que deveria derrubar mais algum deles para que ficassem parados novamente.

Estava com dois em sua frente, na trave da esquerda, dois pela trave direta e outros quatro quase que o flanqueando pela linha de fundo.
Decidiu acertar o irmão do banguela, e comprar de uma vez por todas uma briga com toda a família.
Escorregou a mão até a ponta do cano e mesmo sentido um forte chute nas costas, e alguns socos na nuca. Desferiu um golpe certeiro, até de mais, no rapaz que caiu inconsciente.

O Chute que tomou pelas costas o empurrou para cima do cara que estava do lado do que tinha acabado de cair. Mas este ainda estava pasmo pelo barulho que o cano fez ao atingir o amigo.
Aproveitando o impulso dolorido do chute, desferiu um golpe no nariz daquele que, segundo gírias locais, estava "panguando" ali no meio, assustado com o que tinha acontecido.

Não chegou a cair, mas a pancada foi o suficiente para ele sair cambaleando para o meio da quadra com um nariz torto.

Ficou ao lado da trave esquerda, no mesmo lugar que o cara inconsciente jogado no chão. E achou graça o outro sem dentes ainda em pé, gritando coisas inteligíveis enquanto cuspia rios de sangue. O do nariz falava fanho e chorava.

Tinha-os novamente na sua frente. Agora três deles bem machucados.

Não queria continuar com aquele derramamento de sangue, mas no fundo estava gostando mesmo do barulho do metal cortando o ar e acertando seus adversários. Depois de mais alguma gritaria, começou a ficar preocupado com o corpo estendido no chão, sabia que não estava morto, mas mesmo assim...

Nesse momento o portãzinho de metal do fundo da quadra se abre. Passam por ele a diretora e mais dois policiais militares.
Em questão de poucos momentos a quadra estava fazia, os únicos que foram pegos foram o banguela, o nariz e o rapaz inconsciente.

Pulou o muro tão rápido, que nem sabia por que estava correndo, mas algo dizia para ele nunca mais voltar naquele lugar. Segurando forte o “estoura fuça”, decidiu deixar esse nome mesmo.



Valei-me

Sinto que preciso escrever essas linhas para manter-me vivo. Pois sempre haverá coisas que não podemos prever. Se prevenir de algo que desconhece parece loucura, mas alguns têm um dom incerto para a profecia. Alguns raciocinam mais, outros sentem mais as coisas ao seu redor. Considero coisas indistintas.
Independente do que sejam aqueles arrepios em certas noites. O ar pesando nas narinas, e as nuvens parecendo flutuar mais baixo, em formato de sinais a serem captados.
A lua e as estrelas nos revelam parte do caminho.
Não consigo ser cético. Digo que existem coisas que ainda não compreendemos pela ciência, e podemos encontrar hoje apenas através da nossa mente. E nossa mente esconde tantos mistérios e tantas curas.
Percebemos que dentro da nossa linha de visão sempre há alguém que precisa de certa ajuda. E quem somos nós para ajudar alguém quando nem conseguimos nos salvar desse mundo insano?
O jeito é; não há saída. Não dá tempo de tentar correr. Todos nós precisamos do clichê, do amor, esse que tudo envolve. Não há reforma social se não haver reforma espiritual e intelectual.
A palavra amor possui um significado há tempos extinto na expressão espontânea dos olhares. Há o formato, junto do interesse com o conveniente e a manipulação. O amor virou um signo que não muitas pessoas podem entender. E os que entendem, tendem a ir embora, carregando consigo um dos mais lindos segredos. Quando há palavras para descrevê-lo, só existe incompreensão e a edificação de falsos templos e tendências. Mas quando flui através do olhar e de pequenos atos, de simples sorrisos e um forte abraço, dessa maneira sim, podemos sentir onde tudo começa. Mas o caminho não é fácil. O amor faz sofrer e o ar faltar. Traz a angustia que comprimi nosso peito até beirarmos a loucura em noites mal dormidas.
Sim, existem mistérios na vida, um deles, somos nós.
Mas modernizaram a rotina, enfeitaram a forma de pensar. Hoje nada é o que parece ser. Somos coisas que podem se vender. Ninguém nunca disse que seria fácil. Mas tento levar a vida da maneira mais simples que posso. Com nada mais do que eu preciso, para poder sorrir de novo.



segunda-feira, julho 05, 2010

Medo

Todas as janelas estavam trancadas e a luz da lua entrava formando uma penumbra no local. Não havia nada o que podia ser feito. Verificou o seu celular, estava sem bateria. Olhou para os lados em alerta. Um semblante desesperador dominou sua face.
Escutava ao longe eles se aproximando.
Procurando por algum tipo de cobertura, sentou-se rapidamente ao lado de algumas caixas empilhadas. Abraçou suas pernas encostando sua cabeça nos joelhos.
Junto de um tipo de oração aflita começou a chorar baixinho.
Sentiu uma forte dor de cabeça, seus membros tremiam. Vomitou em seu colo sem parar de chorar.
Estavam mais próximos agora. Conseguia ouvi-los entrando pela porta principal. Frenéticos.
Tentou se recompor, porém o gosto azedo junto das salgadas lágrimas em sua boca o fazia sentir ainda mais náuseas.
Seu rosto estava vermelho e inchado.
A porta abriu de súbito por um forte pontapé e ele se encolheu ainda mais. Uma voz bradou e ecoou pelo recinto:
--Aparece filho da puta!
Tinha a vã esperança de acordar daquele pesadelo a qualquer momento. Mas tudo aquilo era real.
Devido ao pavor e medo, sentiu seu estomago embrulhar e seu intestino manchando suas calças.
Escutou alguns passos se aproximando de onde estava e logo uma rápida conversa:
--Esse lugar fede! Disse uma das vozes.
--Não é o lugar, é o cheiro daquele merda!
Desesperado, soluçou um pouco mais alto... Em vão, colocou a mão na boca para não fazer mais barulho. Porém eles já sabiam onde ele estava.
Escutou os passos contornando as caixas e a forte luz de uma lanterna o cegou. Só conseguia ver a silhueta de seus algozes.
--Da uma olhada nisso, que piada.
--Nem pra morrer com dignidade né seu cuzão? Completou outra voz.
Tentou levar as mãos até os olhos cerrados para poder enxergar melhor. Antes de completar seu movimento, dois tiros ressoaram.
O som dos tiros propagou-se pela região, mais do que a noticia de sua morte.



terça-feira, junho 29, 2010

Certas coisas

Certas coisas que se passam
Coisas que se omitem
Outras coisas que se emitem
Durante o meu caminho

À tarde rubra que toca o corpo
A noite nua que inunda a mente

Não tenho as respostas que gostaria
Não tenho mais

As palavras que eu tinha

Meus calos
Representam
Um trajeto
Os olhos cerrados
Apresentam
Uma ideologia

As minhas verdades
Minhas mentiras
Em contradição

Uma imagem
Um padrão

O externo
O feio
E o belo

Intimam uma
Falsa impressão


quinta-feira, junho 03, 2010

Vereda

A poeira
Do chão
Por cima das coisas

Poeira da terra
Batida

Do meu coração

Que anseia
Bater forte

Mas tem
Como mote:
Não viver uma ilusão

As miragens
De um deserto
Repleto de
Solidão

São visões
Esperadas

Vereda
Por meio
Do caos

Em busca de
Compreensão



quarta-feira, junho 02, 2010

Entre Safra

Quem é quem
Um olhar uma espreita

Um suspiro

Uma face uma despedida
Beijo em uma noite desmedida

Um ato, indeterminado
Que antecede o sossego

O desfecho da estrada
O fim, o principio.

Um suspiro um ciclo

Mãos no corpo
E o corpo na alma

O olhar que nunca se cruzou
A mente que divaga
Entre
Paralelepípedos e casas

Eu vou
Você faça

O que quiser

Ninguém pode ter tudo.

Vida, muro, pulo.
Os anéis de saturno

Auréola de um mundo

Roda e gira

Voe para longe

Olhar o céu
E ver estrelas sorrindo

Estou aqui
Aviso que estou aqui
Por enquanto.

Um suspiro alto
Entretanto

Entre tantos.

Existindo.



quinta-feira, maio 20, 2010

terça-feira, maio 18, 2010

La dos Altos

La dos altos
Soa um forte tom

Que recai sobre nossas cabeças
E abençoa

Vidas tais

Como os que emitem um leve suspiro
Na esquina

De baixo de velhos jornais

E logo à frente o sol
Que reflete nos terminais

Tentativas falhas de poder
Amar o ser

E tesouros nas mãos de
Pilhas de importantes saldos

Educam o ser
Para amar o poder

Corações e mentes se perdem
Quando esquecem o que é viver

La dos altos
Soa um forte tom

Que paira sobre vidas e casas

Ilumina janelas, santos e pedras
Bancos, cheques e feras

No timbre de um velho vinil

Fique imune a sanidade
Liberte-se da Liberdade.



quinta-feira, abril 01, 2010

Interferência

Caçando sorrisos no meio da multidão
A mente vazia e o coração

Coloco-os na bolsa de prazeres
Antes que murchem em minhas mãos

Seu medo infantil
Do mito e do pecado

Primitivo ser que roda em ciranda
Em volta da fogueira de incompreensão

Colho olhares místicos entre a pressa
Um por um, até os mais céticos

Coloco-os em minha bolsa de prazeres
Antes que se feche em minhas mãos

Um ato delinqüente
As voltas dadas
Transbordam as mentes
De lixo retrógado e senil

Tento não interferir no trajeto
Mas o ser
É interferência

E é a Natureza
Essa nossa que não muda

Essa nossa alma que regozija
Tentando entender o que não precisa

Vivendo o que serve mais

As luzes irão iluminar
Caminhos até o Éden do pensamento

Recolho espíritos presos

Solto-os todos
No meu jardim de esperança






segunda-feira, março 29, 2010

Novo de novo

O futuro não tem limites
Vaga em todas as direções
Como a luz que propaga no universo

As mãos para os céus
Pegando o fluxo do destino
Não há barreiras
A não ser aquelas
Impostas por nós mesmos

Como o Medo
A incompreensão
O preconceito

Queira e terá
Descubra e verá

O verbo
Ação Imutável.
Que transformar-se

A todo o momento

Paradoxo

Do ser e não ser
Ao mesmo tempo
Ter sem possuir
Partir e ficar

Tudo e nada
No mesmo conceito

Veremos assim talvez
Com os olhos sãos
Uma constante chamada
Iluminação.