terça-feira, junho 18, 2019

Verbo Ver

Oi, tem alguém por ai? Não é que este blog tornou-se um Museu? Ótimo! Talvez um ponto ermo no meio da internet. Sabe aquele cantinho da cidade que você encontra,  e ele vira, o seu cantinho? Não tem ninguém, só você e seus vícios...

Verbo Ver

No caminho para o trabalho cochilou. Encostou a cabeça no vidro do circular por nem dez minutos; suficiente para sonhar e acordar bruscamente devido a uma freada. Salvo, seu ponto é o próximo. Todos os dias após descer no ônibus, caminha até o trabalho por pelo menos duas quadras. Hoje caminhou tentando resgatar o sonho perdido, a figura de alguém caindo?... mas desistiu ao chegar na frente do prédio. As pessoas do escritório, todas falando alto, ao mesmo tempo; tomando café, sons de teclados, telefones tocando - BOM DIA! - bom dia... refugiou-se na sua função, meio longe do pessoal, arquivando umas pastas, organizando papeis inúteis. 

Pegou suas coisas e saiu, passou pelo escritório, não era a mesma animação da manhã. Desfazendo seus passos pelas duas quadras que o separavam do ponto de ônibus, lhe veio uma vontade de voltar andando para casa, estava disposto, apenas quarenta minutos de caminhada. Abriu os dois primeiros botões de sua camisa e tirou a gravata; virou a esquerda na sorveteria, seguiu reto no restaurante do português, virou a direita no posto e subiu em direção ao parque: lembrou do corta caminho que o levava até perto de casa, uma pequena calçada em meio as árvores. Entrou no parque, passou pelos brinquedos e se enveredou pela calçadinha mal acabada.

Estava agora em um ponto alto do trajeto e era possível observar a cidade; final de tarde e um sol tímido no meio das nuvens, desaparecendo no meio dos prédios. Carrinhos lá longe engarrafando-se entre si, pessoas caminhando, voltando do trabalho, pegando crianças nas escolas, catadores de latinha, jovens despretensiosos, velhinhos a comprar pão; toda aquela movimentação da gente comum da cidade e suas rotinas. Ficou parado ali, imaginando qual seria a história de cada uma daquelas pessoas; seus medos, suas qualidades, os detalhes que tornavam-se invisíveis daquela distância. Notou as casas; entre elas, casas novas de uma arquitetura simples entre outras antigas, de batentes e janelas com adornos. As ruas que se cruzavam, tecendo a trama do trafego, conduzindo pessoas pelo passeio. Veio seguindo com os olhos a rua que descia em direção ao parque. E se antes a sua visão estava longe, agora começou a aproximar das coisas que haviam a sua volta. Logo a sua frente um pequeno morro que acaba num matagal e notou que dali era possível ver o prédio onde morava. Contou os andares e conseguiu achar o seu apartamento. Na pequena sacadinha, porém, notou uma pessoa parada.

Ficou olhando com atenção, mas não conseguia ver quem era. Notou que subitamente a pessoa virou-se em direção a ele; parecia estar observando-o também. Arriscou um aceno de mão, mas não teve resposta. A estranha figura virou-se para frente novamente e saltou do sétimo andar. 

Estava a menos de quinze minutos de casa e se pôs a correr;  desceu a rua do mercadinho, virou na padaria e seguiu reto até os prédios populares. Ao chegar na frente de seu prédio, nenhum alarde, nenhum corpo. Entrou no apartamento e não havia nada de diferente; foi em direção a sacadinha e olhou para baixo, nada de anormal. Parado, olhou ao redor e buscou a visão do caminho do parque; Notou alguém lhe acenando ao longe.