quarta-feira, julho 18, 2007

Analise do sistema e do Zôo Humano. Parte II

Um cafezinho fumegante, em um barzinho de esquina. O frio considerável, Assopro em minhas mãos uma gorda e lenta quantia de ar, agora visível pelo frio.
O prédio que envolve o local é cinza e feio, mas, bonito ao seu modo. Vidas complexas divididas por paredes finas de concreto.
Às vezes acordo com berros do quarto ao lado, um casal difícil imagino. As camareiras se fazem de invisíveis o dia todo, aposto que assim foram treinadas, de vez em quando as olho com cara de viajante esperto e conquistador, não espero nada, mas me divirto. Elas também, pois sorriem como meninas, não funcionárias. Talvez estivessem acostumadas com isso também, ficava então subentendido.
Já, praticamente, não tenho mais casa. Desprendi-me do mundo confortável e seguro que todos chamam de lar.Estou quase escondido, degustando um mundo como deve ser. Misturei-me com a multidão. Ainda recebo alguns olhares intrigados, mas sei que não sou eu, são eles.
O Grande e feio prédio cinza e bonito ao seu modo, é paisagem de minha janela, com roupas penduras nas janelas dos apartamentos como varais improvisados, são como pequenas cavernas nas montanhas, refúgios sagrados para seus moradores. Por falta de espaço, casas construídas umas em cima das outras.
E eu aqui, em uma gaveta alugada. Essa agora é a minha realidade.
O dia está pálido, não dourado como nos dias de sol, mas branco, como nos filmes antigos.
Nas noites que vaguei, e nas sirenes e carros que escutei do meu quarto melancólico. Noite e dias, e os quartos e as ruas, as casas, as pontes, os lixões os becos, as guias de uma calçada, os prédios em construção, escondem, por traz de um confortável lar em algum bom bairro, uma realidade que os seres humanos não buscam entender.
Escondem mendigos bêbados vagando com a dor que ninguém nunca entendera, crianças chorando de fome, sirenes malucas vagando em assistência em algum acidente ou roubo, casais se depravando, pais bêbados, mães distantes e cruéis, animais mortos, crianças com frio, pessoas trabalhando, delinqüência, drogas e armas. Morte.
Choros angustiados que o mundo finge não escutar. Pessoas encolhidas em jornais milagrosamente dormindo, sonhando com algo que não sabem que também pertence a elas. Pelo menos o sonho ainda lhe é permitido.
Isso tudo é feio. Mas bonito ao seu modo.Como o prédio que enfeita a paisagem do meu quarto.
-Seres humanos, vocês são todos da mesma espécie.
Aos poucos vou afastando a visão, como que se estivesse subindo. Vejo a pensão onde estou logo um pouco mais afastado, vejo junto, a minha pensão e o prédio cinza e a avenida, então vejo todo centro e em seguida toda a cidade. Indo mais longe, subindo e se afastando mais, tudo vai se tornando pontinhos luminosos amarelos dos postes, e brancos se movimentando sendo estes dos carros, vejo assim o estado, os estados próximos, o pais, o continente e por fim, o planeta terra.
Pronto, essa visão azul do mundo, aonde se esconde o feio, porém bonito a seu modo. Aqui no universo a terra e os seres humanos são tão frágeis...
Quase nada... Seres complexos por poderem e por não sofrer.
Mal eles sabem que possuem todo um mundo em suas mãos, que possuem todo um universo, que são capazes de criar deuses e crenças, que são deuses e demônios. Possuem o pecado e o perdão. Tudo então, se mantém em suas lembranças.
E assim como é, estão fazendo do planeta, sua imagem e semelhança.

Um comentário:

Thathá disse...

me lembrou uma musica:
"...era um menino com o destino do mundo nas mãos, olhos no dilúvio e os dedos num violão..."