quarta-feira, maio 30, 2007

Um amor. Uma Estrada.

Parti
A vista é diferente daqui

Te Parti
Aquela porta entreaberta
Mantém a lembrança da saída

Desculpe-me sair assim
Mas não sou bom em despedidas

Não sou bom em muitas coisas
Só sei
No que não sou ruim

Reencontros, beijos lembrados.
Abraços e conversas sem fim

Seus olhinhos aqui
Pegaram-me de jeito

Ah! Uma risada, um afago.
Ah!A estrada, um abraço.

Depois daqueles dias
Outrora sem sentido

Eu vou com você
Você vem comigo

Cronicas de um cotidiano barato.Parte III

Aproveito que a chuva deu uma trégua e vou para fora da minha casa, pego meu casaco feito de um material impermeável cinza que é uma imitação de couro, que tem uma gola grande que fica dobrada pra fora com um pano tentando imitar pele de carneiro, é bem parecido com um casaco de aviador.
Não gosto de fumar no quintal de casa, me sinto desconfortável. Eu particularmente gosto de fumar um cigarro bem tranqüilo, então vou lá pra fora, na rua, atravessando o quintal cheio de barro, e poças.
Meu avô é engraçado, ele vive tentando inventar alguma coisa para que ninguém suje os pés antes de entrar em casa, e todas suas tentativas não dão muito certo, mas todo mundo finge que não liga e fica por isso mesmo. Às vezes chego a achar que o estado da minha casa é o estado moral do meu avô.
Vou para fora e fumo um dos cigarros que meu amigo me deu ontem.
O dia não está bonito, ainda cai uma chuva fininha, e tudo está cinza, até as pessoas os carros e os animais. O asfalto molhado tem um cheiro bem peculiar, e me recordo quando antes era tudo de terra. Prefiro o cheiro de terra molhada a de asfalto, mas asfalto é mais pratico e não deixa crateras enormes quando chove, então, só me mantenho em lembranças das antigas ruazinhas de terra.
A fumaça do cigarro não se dispersa, ela flutua baixa e lenta na minha frente e eu ali encostado em um muro, sendo cinza também.
Deixei o portão aberto, mas não deu vontade de fechar.
Eu tenho que admitir que sou uma pessoa um pouquinho preguiçosa, mas tenho boa vontade. O problema é que penso de mais em certas coisas que não tem se quer muita importância, ai crio mil e um motivos pra não fazer a coisa, por que simplesmente ela não me parece interessante. O preguiçoso em mim não é deixar de fazer alguma coisa, é deixar de me dedicar um pouco mais a tentar achar algo interessante de se fazer.
Tento ao máximo não transformar certos defeitos em peculiaridades, principalmente esse tipo de coisa. É horrível isso, é como quando você aprende a tocar algum instrumento, se você aprende alguma coisa errada no começo, vai fazer errado até chegar a um momento que vai ter que mudar isso para continuar aprendendo. Aquilo que no começo facilitava, começa a prejudicar quando você precisa de velocidade e precisão, ou seja, progressão. É exatamente a mesma coisa.
Chega uma hora que se torna chato. Eu me esforço. Se eu consigo? Vai saber...

quarta-feira, maio 23, 2007

Crônicas de um cotidiano barato. Parte II



Sento e mecho no computador, que consegue me alienar por um tempo, até eu decidir comer de verdade.
Dia pós dia, eu me arrasto no tempo e as folhas do calendário voam pelos meses que passam e que batem contra a minha cara, incomoda um pouco isso, tento não ligar, mas a cada garfada é algo que eu penso.
A comida é saborosa, mas não sinto lá muito o gosto, só sei que é gostosa por que tudo que a minha avó faz fica gostoso e sei que não é ela sou eu.
O meu almoço me faz lembrar pessoas passando fome, e droga, tem umas carnes no meio. Aquilo por alguns segundos se torna uma tortura. Às vezes certas ideologias conseguem transformar o seu almoço em tortura. Mas de verdade? Eu não ligo. Serio mesmo. Isso passa dentro de alguns segundos. Pessoas passando fome, animais sofrendo enquanto eu simplesmente quero me alimentar, ninguém se sente culpado nem eu, mas confesso que é algo triste. Pois eu comendo ou não, pessoas ainda vão morrer de fome, animais ainda vão sofrer, mas confio em quem está engajado nesses assuntos, assim que der, quem sabe eu não me junte a alguma ONG. Mas agora eu simplesmente quero me alimentar, só isso, e com carne ou sem não me sinto pecando e é isso que passa dentro de alguns segundos e poucos minutos.
Termino de almoçar e agradeço minha avó, faço alguma brincadeira com ela e volto pro meu refugio, meu quarto.
É eu tenho tempo, tempo que muitas pessoas gostariam de ter. É simples apontar e falar. Todos esses prostitutos do sistema dizem isso pra mim. Só por que eles se vendem por um serviço que nem gostam tanto de fazer e eu não.
A questão aqui é o dinheiro, eu por enquanto estou me virando com o dinheiro do seguro, mas sei que isso só dura mais dois meses, pois já peguei a grana do mês passado.
Enfim, meu ultimo emprego não era lá uma coisa que eu adorava, mas não chegava a ser um subemprego. Eu ralava, não era tão simples assim, não mesmo.
Quando sai (quando me tiraram, diga-se de passagem) me vi livre de um lugar cheio de hipócritas, como todos os outros lugares. Tem quem se salve, mas de uma forma ou outra nesse âmbito fazia menor diferença.
Agora me vejo com tempo, pensando de mais e de menos. Escutando palpites, opiniões, elogio, critica, mas eu não me incomodo com nada disso, pois eu sei que quando se está parado, você vira um alvo fácil mesmo, a partir daí é só ter uma boa peneira moral.
Se eu estivesse fazendo qualquer merda para me alienar ninguém falaria nada.
Não sou contra trabalho, não é isso, eu acho que esse é o maior fator de amadurecimento de uma pessoa, e o maior fator de encaixá-las num sistema, como uma peça de lego. Cabe a cada um, saber se está no lugar certo. Eu estou vendo onde eu melhor me encaixo, enquanto tenho tempo pra fazer isso, ou seja, enquanto estiver ganhando o dinheiro do seguro.
Mas não me sinto assim por causa do emprego, na verdade, isso é uma das coisas que eu menos penso, de uma maneira ou de outra eu sei que vou ter que acabar me enfiando de novo em algum lugar cheio de hipócritas, ai sim isso me deixa um pouco triste.
Dinheiro é uma merda mesmo. Dinheiro não é solução de nada, dinheiro é o problema mesmo. Se não fosse por ele metade dos problemas do mundo não existiriam. As pessoas criam problemas usando dinheiro e afundam num poço onde só o próprio dinheiro que meteu ela lá pode tirar, e isso é péssimo.
Se eu pudesse viver sem dinheiro eu com certeza abriria mão disso. Mas infelizmente já vivo subliminar num mundo corrompido.
Eu sei, eu sou um cara novo ainda e tenho muita coisa pra aprender. Gostaria de receber uma carta de mim mesmo de quando eu tinha uns 14 anos. Pra me ensinar mais.
E quando eu tiver 30 anos vou querer receber uma carta de quando eu tinha 25. Eu ainda vou escrever uma carta para mim mesmo quando estiver 25.
Fico com vontade de fumar um cigarro, sempre tenho essa vontade depois que eu almoço.
O relógio já beira três horas.

Crônicas de um cotidiano barato. Parte I

"Sobre algo desimportantemente importante escrito por alguem que não liga pra nada"


Desperto, mas continuo na minha cama, ouvindo a minha casa. Já escuto a panela de pressão, minha irmã se arrumando para ir à escola, a T.V. ainda em um volume baixo e o relógio gira em torno das onze horas da manhã.
Dormi tarde ontem, mas não que eu tenha feito algo de especial. Na verdade eu gosto de ler ou escrever depois que todos já foram dormir.
Fecho os olhos novamente para ver se ainda tenho alguma chance de sonhar, funciona às vezes, mas hoje não, foi quase uma simples meditação que serviu para aumentar minha preguiça.
Como num ritual levanto-me e sento na cama. Penso simplesmente em nada. Eu durmo na parte de baixo de um beliche, a parte de cima está vazia, significa que meu irmão foi trabalhar, ele levanta cedo com a minha mãe. Meu irmão é um ano e meio mais velho que eu e trabalha fazendo sites, já minha mãe trabalha com o meu tio. Na verdade todos acordam cedo menos eu, pois, estou desempregado, fui demitido do meu ultimo trabalho. Agora estou recebendo um seguro desemprego.
Levanto-me e a primeira coisa que faço é ir para fora do meu quarto para ver como está o dia. Hoje amanheceu chuvoso. “Bem que o “homi” do tempo disse” minha avó fala. Vou para cozinha e não falo bom dia, é algo que estou acostumado a não fazer.
Fico indeciso entre tomar café ou almoçar, então decido comer qualquer coisa que não se encaixe em almoço e nem em café da manhã.
Volto para o meu quarto abro as janelas, ligo o computador e pego o violão. Despejo alguns acordes.
Sinto-me inerte, sinto que posso sorrir ou chorar e que isso pra mim não faz nenhuma diferença.
Olho a chuva lá fora caindo inocente, sem culpa das reclamações das pessoas. Por um momento sinto inveja dela, gostaria que a chuva fosse eu e eu a chuva. Aposto que a chuva se sairia bem melhor como eu do que eu mesmo.
Eu sei que não preciso disso, desse tipo de pensamento. Chego a pensar então se mereço sentir isso. Sim.
Percebo então, que agora sim acordei, pois esse tipo de coisa já altera meu estado de espírito que, confesso, não vai muito bem de um tempinho pra cá.