sexta-feira, julho 23, 2010

Estoura Fuça

Com um cano, acertou em cheio as fuças daquele miserável e se afastou dando dois pulos para trás. Sentia que estava seguro de possíveis investidas daquela distancia. Marcava sua área de ameaça com um cano que segurava, levando-o de um lado para outro, fazendo um zumbido engraçado. Poderia acertar seus adversários antes que estes pudessem aproximar-se dele.

Eles estavam em oito e queriam tirar satisfação de brigas passadas. Há tempos que a covardia tinha invadido os espíritos dessas crianças. Tinha certa vantagem por eles estarem bêbados, porém sabia que teria que bater com o dobro da força para poderem sentir alguma coisa.

Estavam nos fundos da escola, na antiga quadra, onde havia quase nada de supervisão por parte dos inspetores.
Tudo bem, os mais inocentes pensaram: Brigando na escola, com um cano e ainda bêbados? É exatamente isso. E eles não estavam para brincadeira.

Depois que o primeiro deles tomou um forte golpe na cara, caiu sentado com a mão no rosto. Os outros pareciam abelhas bravas, xingando e se movimentando entre eles. Mas até então, nenhum ousou partir para cima daquele que tinha como sua defesa, não muitos amigos, mas sim aquele cano um pouco enferrujado.
Neste momento ele pensou em dar um nome para seu amigo; "Estoura Fuça". Na verdade achou o nome horrível, e quando tivesse mais tempo daria um nome mais legal com números e consoantes soltas, talvez.

Antes que terminasse seu pensamento percebeu que dois deles partiram com muita raiva para cima dele. Um deles era o irmão do que merecidamente tomou uma "canada" na boca. Ficou bravo depois de o garoto cuspir os três dentes da frente na linha da grande área daquela quadra fudida.

Não deveria ter se distraído com o “estoura fuça”, e teve que dar mais dois pulos para trás para se desviar das investidas, passando por dentro das traves sem rede. Esse movimento foi o suficiente para os outros também partirem para cima. Ele sabia que deveria derrubar mais algum deles para que ficassem parados novamente.

Estava com dois em sua frente, na trave da esquerda, dois pela trave direta e outros quatro quase que o flanqueando pela linha de fundo.
Decidiu acertar o irmão do banguela, e comprar de uma vez por todas uma briga com toda a família.
Escorregou a mão até a ponta do cano e mesmo sentido um forte chute nas costas, e alguns socos na nuca. Desferiu um golpe certeiro, até de mais, no rapaz que caiu inconsciente.

O Chute que tomou pelas costas o empurrou para cima do cara que estava do lado do que tinha acabado de cair. Mas este ainda estava pasmo pelo barulho que o cano fez ao atingir o amigo.
Aproveitando o impulso dolorido do chute, desferiu um golpe no nariz daquele que, segundo gírias locais, estava "panguando" ali no meio, assustado com o que tinha acontecido.

Não chegou a cair, mas a pancada foi o suficiente para ele sair cambaleando para o meio da quadra com um nariz torto.

Ficou ao lado da trave esquerda, no mesmo lugar que o cara inconsciente jogado no chão. E achou graça o outro sem dentes ainda em pé, gritando coisas inteligíveis enquanto cuspia rios de sangue. O do nariz falava fanho e chorava.

Tinha-os novamente na sua frente. Agora três deles bem machucados.

Não queria continuar com aquele derramamento de sangue, mas no fundo estava gostando mesmo do barulho do metal cortando o ar e acertando seus adversários. Depois de mais alguma gritaria, começou a ficar preocupado com o corpo estendido no chão, sabia que não estava morto, mas mesmo assim...

Nesse momento o portãzinho de metal do fundo da quadra se abre. Passam por ele a diretora e mais dois policiais militares.
Em questão de poucos momentos a quadra estava fazia, os únicos que foram pegos foram o banguela, o nariz e o rapaz inconsciente.

Pulou o muro tão rápido, que nem sabia por que estava correndo, mas algo dizia para ele nunca mais voltar naquele lugar. Segurando forte o “estoura fuça”, decidiu deixar esse nome mesmo.



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