quinta-feira, agosto 16, 2007

Alheio

Há dias em que me torno alheio a tudo, ao espaço e a falta dele. Exilados dos sensos básicos de noções existenciais.
Alheio as igrejas que na frente passo. Alheio as lojas que vende roupas e sapatos, distante dos carros e maquinas e de olhares gananciosos.
Desligado do material e do espiritual, pois é como se minha alma , entediada do meu corpo, saísse para dar uma volta.
Não vejo sentido nenhum entre beleza ou feiúra, corrupção ou honestidade, boas roupas ou trapos, ou mesmo nos modos das pessoas.
Mesmo que a cada instante todas as pessoas estejam fazendo pequenas escolhas, mesmo todas as pessoas tendo suas diferenças e preferências, nesse dias, diante de tudo isso, a única coisa que sinto, é toda uma indiferença.
Passam-me inertes olhares intencionados, amizades, sorrisos, lagrimas, besteiras, péssimas manias, covardia ou coragem. Vez ou outra nesses dias ,quando alguém consegue dirigir a palavra para meu corpo, eu não respondo, não consigo e não me esforço para poder responder. Desinibidas ou desconcertadas que as pessoas fiquem ,eu não ligo.
Indiferente diante do dia e da noite, do sol e da chuva. Se o vento derruba folhas ou arvores, levanta sementes ou telhas. Se o mundo vai superaquecer ou se quebrar em duas partes.
Vejo-me livre de crenças, dogmas, filosofias, artes, pensamentos, pecado ou perdão.
Alheio aos sentimentos, alheio ao amor e a raça.
Não faz pra mim nenhum sentido a imagem de Deus ou a imagem do Diabo.
Se os rios correm ou param as mentes, se matam baleias ou se matam inocentes.
Que toque a musica ou não, pois nem o silencio me toca.
Boiando, pairando, de olhos abertos diante da pobreza imensa ou a riqueza contrastante.
Morte ou vida. Estamos sonhando? Isso tudo é real? Não ligo para nada disso. Não vejo mistérios e nem vejo motivos em nada obvio. Grandes mensagens, grandes mentes, ídolos mundiais, nacionais, santos ou macumbas.
Da opressão a revolução, causas nobres e distintas.
Não dou a mínima entre uma moça de família ou uma prostituta.
Entre dominante e dominado, um cão ou pessoas com boa cabeça e cultas.
Faz sentindo nenhum tudo isso, e nem posso dizer se está tudo certo ou tudo errado, pois, nessas horas, eu nem quero saber.
Proporciona-me um olhar sem poesia, sem curiosidade por falta de interesse, sem compaixão, sem tardes amanteigadas pelo sol.
Mesmo assim, existe muita poesia em não ter poesia.
Nada me deixa triste, nada me deixa feliz, nada me faz sorrir ou chorar. Não tenho preguiça e nem tenho animo.
A falta de, não significa, ter o oposto do que não sinto, do que não tenho, do que não vi.
Não ei de odiar só por que não amo. Simplesmente me vejo alheio a isso, só isso. Ao universo. Não me sinto alienado nem atento a nada.
Vejo daqui, o que todos chamam de infinito. Ali está o infinito e o universo e aqui estou eu. Não faço, hoje, parte do ciclo.
Recosto-me em algum lugar, e ligo meu cigarro de fumaça.
Sinto-me sentindo algo.
È o meu espanto a importância que dou ao fato... Ao fato... De não me importar com nada.
Contemplo então, seguro de não ser humano esses dias, o frágil pedestal envolto de infinitos pensamentos humanos, e deuses criados por vocês, onde sua consciência e existência estão, delicadamente, apoiadas.

2 comentários:

Barbara disse...

uma vida cheia de pausas. não se dar ao esforço de se interessar nem se sentir satisfeito quando/se tal esforço foi feito. Isso é bastante comum na verdade, a indiferença torna-se tão inútil que o mais forte dos sentimentos acaba não mais sendo tão profundo.. e profundidade nem entra mais em nada. meio desesperador, mas muitos fatos que vce acha indiferente, sempre foi e sempre será pro resto das nossas vidas, né Brasil? né religiões e né, pensamentos alheios?
tanto faz, quase sempre.
mas nem deveria

Jenny Souza disse...

Instigante e intrigante...
Sufocante...
Bom, realmente bom!Bom de verdade!

Bye